O dia amanheceu com sol. Quando acordei a luz solar bateu dolorosamente no fundo dos meus olhos e o latejar da minha cabeça acusou todos os excessos da véspera. Estava sozinho na cama e eram 11 da manhã. A noite anterior seria daquelas que facilmente durariam até de manhã e tive de me forçar a vir para casa cedo. Lá me levantei, e depois de dois copos de sumo e um
Benuron já me sentia mais agilizado para aquilo que se havia de seguir. Fiz todos os preparos calmamente e cada vez que olhava o relógio sentia que tinha o tempo a meu favor. Mantive-me alheio a uma certa impaciência e tensão que pairavam pela casa, sentia-me senhor da situação. Mas entretanto comecei a ter indícios que as coisas não estavam controladas. Reparei que as minhas mãos estavam transpiradas, trémulas, o meu rosto estava lívido, as extremidades da minha boca estavam descaídas e não conseguia, por nada deste mundo, dar o nó da gravata. Afinal estava nervoso. Fiz mais umas tentativas desesperadas e já impaciente entreguei a gravata à minha irmã, que a avaliar pela minha expressão, nem rejeitou o meu pedido. A gravata ficou pronta, saímos todos em cima da hora e depois de ter chegado não me recordo de ter feito o trajecto. Sentia-me estranhamente nervoso mas conseguia controlar as emoções, ou pelo menos dar a ideia de serenidade, pois lentifiquei os meus movimentos. Caminhei devagar, falei sempre pausadamente, mas de vez em quando dava por mim a respirar fundo o que poderia indiciar o meu estado a um olhar mais atento. A espera não foi longa e a cerimónia começou. O meu amor estava lindo (é lindo!) e não perdi muito tempo em elogios, pois teria o resto do dia e o resto da vida para o fazer. O importante era consumar aquilo que tanto queríamos. Reparei que os seus olhos estavam carregados de comoção e ameaçavam um choro a qualquer momento. Dei-lhe a mão. Ela também tinha as mãos húmidas e resolvi abraçá-la. Depois correu tudo bem, à medida que tudo ia decorrendo, os nervos iam dissipando. Depois vieram as alianças, primeiro a minha, depois a dela. Ou ao contrário, já nem sei. Os risos começaram a sair, a tensão deu lugar ao humor e às brincadeiras. Desejaram-nos felicidades com um toque de moralidade, e saímos. Não houve arroz, mas houve um longo, demorado e silencioso abraço. Um abraço sentido. Um abraço de amor. O melhor que recebi na vida. Foi um abraço que apagou a má memória de tantos outros que demos em despedidas. Foi um momento muito especial e inesquecível. Sou um tipo de sorte. Tenho sorte de ter o amor que tenho, tenho sorte na família que tanto adoro, sorte em gostar daquilo que faço, sorte nos bons amigos que tenho. Agradeço toda a paciência e tudo o que a minha mãe fez e continua a fazer por mim. Agradeço todos os votos de felicidades que recebi dos meus amigos, e sentir a sinceridade desses votos estampada no brilho do vosso olhar é algo que nunca vou esquecer. A eles, a vocês, a todos, obrigado. E a ti meu anjo, agradeço todo o amor com que preparaste tudo, toda a dedicação que nos entregas e a partir de sábado tivemos então a certeza de que demos um passo em frente. Não um, mas dois passos. Lado a lado. Juntos.