Canários
A Quercus está a levar a cabo este sábado, em Tomar, um protesto contra a construção do novo Itinerário Complementar (IC) 9 numa área protegida, avança a TSF. Em causa está a actuação das Estradas de Portugal e do empreiteiro, que a associação ambientalista acusa de violarem ordens judiciais.
Durante a manhã, os ambientalistas estão a colocar correntes nas máquinas e a afixar símbolos de piratas no estaleiro das obras. Um protesto simbólico contra a construção do troço entre Tomar e Alburitel, que, afirma a Quercus, vai destruir habitats protegidos, pertencentes à Rede Natura 2000, no Sítio Sicó-Alvaiázere, e vai obrigar ao abate de sobreiros, carvalhos e azinheiras. A organização aponta ainda que existiam outros traçados menos prejudiciais, do ponto de vista ecológico.
O troço do IC9 em causa foi alvo de um estudo de Impacto Ambiental, mas há já 11 anos, pelo que a Quercus considera que, com a mais recente classificação dos habitats, é necessário um novo estudo. Em Fevereiro, as pretensões a associação ambientalista tiveram um primeiro parecer favorável, e em Julho o Tribunal Administrativo de Leiria emitiu uma nova sentença sublinhando que «não podem ser abatidos sobreiros e azinheiras nem os mesmos podem ser danificados nas raízes ou ramos».Apesar das decisões judiciais, a 20 de Julho a empresa construtora terá avançado para a destruição de uma grande área protegida, razão pela qual a Quercus «requereu a intervenção da GNR e do Ministério Público para identificação dos responsáveis pela acção criminosa».
A associação acusa assim o empreiteiro e a Estradas de Portugal de desrespeito pela decisão do tribunal.A decisão do tribunal deve ser então respeitada e deve alterar-se o trajecto previsto inicialmente para o IC9. A Lei tem de ser cumprida. Por outro lado fica sempre a dúvida, que é minha, se a construção de uma via de comunicação importante como é o IC 9 serve para servir necessidades reais de mobilidade, ou serve para servir interesses das construtoras e dos empreiteiros? Bom, para o traçado de qualquer obra de vias de comunicação, como é este o caso e que passa por várias fases, mas é sempre feito à priori um ante-projecto, com estudos do tráfego, com projecções da evolução do tráfego ao longo dos anos, as populações a servir, e existe uma classificação técnica que são os "níveis de serviço" que uma estrada pode oferecer. Faz-se o "dimensionamento da via a construir de forma que o "nível de serviço" seja de bom nível. Faz-se também um estudo de Impacto Ambiental e todos esses "caprichos técnicos" que os regulamentos assim obrigam são sempre com a atitude altruísta e de bom samaritanismo de "Servir as necessidades reais de mobilidade", de "minimizar distâncias", de "aproximar as populações", de "aumento de qualidade de vida e das infra estruturas rodoviárias", de "construção sustentada de redes de comunicação". Bonito! A engenharia é bela, a vida também, e o betão e o cão são os melhores amigos do homem.
Fazem-se estudos, projecções e horas e horas de trabalho técnico, depois vem a malta da Quercus e tenho mais uma dúvida, ou queremos qualidade sustentada, queremos desenvolvimento, queremos boas estradas com bonitas paisagens, ou vamos ficar de braços cruzados à espera de uma decisão de tribunal por uma área protegida que não são mais do que uns hectares, ou o tamanho de dois ou três campos de futebol. A construçao do IC dará emprego e fomentará laços económicos entre as regiões. Eu defendo o ambiente acima de tudo, a construção sustentada é ambientalista por definição e é-o mesmo de coração. Mas acho que por vezes as associações ambientalistas exageram um pouco, e como eles as associações de defesas dos animais.
Eu defendo essas associações e que faz todo o sentido que existam, sejam associações ambientalistas, de defesa de animais selvajens ou domésticos. Mas como todas as entidades, todas exageram e cometem as suas "argoladas". Tudo isso por causa do uso dos Canários... No século XV, há registos de canários sendo criados como animais de estimação na Europa. Alguns foram criados simplesmente pela habilidade vocal, sem darem importância á aparência. Até a Revolução Industrial, quando não ainda não haviam máquinas ruidosas, alguns artesãos costumavam manter canários em suas lojas para entretenimento. E com essa prática de manter canários nos locais de trabalho descobriu-se que os canários tinham uma capacidade indicadora de gases que o ser humano não consegue sentir o cheiro. Foram então usados nas minas de carvão. Uma mina de carvão nunca consegue ser completamente aproveitada a 100% da sua capacidade, e quando o "stock" de carvão baixa são libertados gases. Um canário dentro de uma mina de carvão, ao cair do seu poleiro, historicamente indicava aos mineiros que suas vidas estavam ameaçadas por metano, monóxido de carbono e outros gases tóxicos, mas sem cheiro.
E foi aí que uma associação de defesa dos animais cometeu um "excesso de zelo". Aqui há muitos anos, numa exploração mineira de carvão na África do Sul, houve quem defendesse o interesse do canários, coitadinhos, que eram usados indevidamente e para tão cruel tarefa. Bom, não havia indicadores electónicos desses gases, como certamente existem hoje, mas deveria defender-se exactamente o uso dos canários! Tudo em defesa da saúde dos mineiros, enfim...
O uso de animais indicadores deve ser fomentado, eu gostaria de ter aqui um canário que me indicasse o que fazer para poder ganhar o dobro. Um canário que caísse do poleiro ao indicar isso mesmo, mas enquanto mantenho o meu optimismo, sinto esse canário bem vivo....
1 comentário:
"O uso de animais indicadores deve ser fomentado, eu gostaria de ter aqui um canário que me indicasse o que fazer para poder ganhar o dobro."
Humm acho que nesse caso seria um *pato* a pagar o dobro e não um canário.
;-)
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