A crise na côltora
Noutro dia, na rádio, tive que ouvir um barrigudo da spa (sociedade portuguesa de autores) a queixar-se sobre a pirataria. Não tenho a certeza, mas penso que desta vez o pretexto foi ir fazer queixinhas ao procurador-geral da república e pedir uma acção mais musculada contra o pessoal que partilha ficheiros, esses criminosos. É que parece que a pirataria está a deixar os agentes culturais muito pobrezinhos, coitadinhos. E agora com a crise…Eu não tenho a certeza, mas parece que entre estes agentes culturais estarão músicos e editoras musicais. Ora, a estes gajos eu tenho a dizer, bem feito! Já tiveram tempo de perceber que as coisas mudaram. E o que é que fizeram? Nada! Foram atrás de meia dúzia de criminosos a ver se assustavam os outros. E que tal melhorar a qualidade do produto que oferecem? Não seria boa ideia? Por acaso, no sábado (ou domingo) passado estava a fazer zapping e parei na rtp 2 que estava a transmitir os Brit Awards. Reparei que andava por lá a Kylie e, como não estava a cantar, decidi deixar ficar um bocado. Fui continuando a ver, e confesso que senti um fascínio mórbido, aquele que nos obriga a olhar para um acidente de viação quando passamos por ele. Ou seja, vi aquilo até ao fim. De cada vez que surgia um novo grupo, a única coisa que me vinha à cabeça era um bocado de uma letra duns gajos que se chamavam “os cães, a morte e o desejo” (acho eu, não tenho a certeza) que dizia qualquer coisa como: “ò elvis, que merda é esta? já conhecemos esta palhaçada”. É que tudo o que era apresentado como grande novidade, não era mais do que um remake fraquinho de coisas que já todos estamos cansados de ouvir. Os gajos mais originais que por lá apareceram foram os Pet Shop Boys (mas a minha opinião sobre eles não é, nem nunca será imparcial. eles são os maiores). E portanto, pus-me a pensar (coisa rara) se seria assim que estes gajos querem vender discos. Será que aquela gente acha que aquilo tem o valor do preço que nos levam por um cd? Ainda por cima enfiado numa caixa de plástico mal amanhada, com umas fotografias fanhosas e com um som terrível? Eu acho que não…
Esta história do preço dos cd’s também tem muito que se lhe diga. Eu sou um pirata confesso (a spa que venha atrás de mim). Infelizmente, a pirataria têm-me saído cara. Porque há (muitas) coisas que saco, de que realmente gosto, e acabo por comprar. Compro sobretudo coisas que, para além de boa música, são edições cuidadas. Quer do ponto de vista gráfico, quer do ponto vista dos materiais utilizados. Como na maior parte das vezes são coisas relativamente obscuras e em edições pequenas, acabo por comprar directamente às editoras ou aos músicos (e geralmente são coisas caras, entre os 6 e os 12 aéreos). Um dos últimos que comprei não caia nesta categoria. Está disponível em qualquer loja de discos razoável. No entanto, acabei, novamente, por comprar directamente no site da editora. A coisa, com portes incluídos (da estranja) ficou-me em 11,5 aéreos. Na fnac custa 15,95 (porque está em brutal promoção, antes custava 20,50)… Então afinal para onde vai o dinheiro? Eu parto do princípio que a editora dê uns tostões aos músicos, descontados do 11,5. Portanto, esses estão pagos. E os restantes 4,45 (partindo do ingénuo princípio que a fnac os compra a 11,5), são para quem? É para isso que querem que compremos discos? Para alimentar barrigudos? Ide dar uma ganda volta!…
p.s desculpem lá o tamanho do desabafo. isto está tão grande que nem eu tive pachorra para voltar a ler :)
8 comentários:
Alimenta todos os barrigudos que estão sentados a gerir uma Fnac, todos os funcionários que la estão dentro e até o camionista que leva os cd´s das editoras até às lojitas.
Por acaso ontem mesmo pus-me a pensar (sim, tb eu penso) que os discos ainda têm de ser um negócio lucrativo, pois foi lançada uma colectânea tipo "melhores músicas de todos os tempos", com honras de publicidade televisiva. A dita colectânea tinha (tem) coisas tão variadas como Carlos Paião, Demis Roussos e outros que tal que já nem me lembro. Tudo numa compilação em que toda a gente encontra lá uma música, entre tantas, que vai gostar. Mas pergunto, quem terá tido a ideia de compilar essas músicas, e de que forma aquilo poderá vender, quando eu montado numa mula, consigo fazer as compilações que quiser. Afinal quem compra aquilo?
É a Coltura, estúpido!
Agora é o tempo dos cartazes da Câmaras Municipais.
Em Oliveira do Bairro todos os dias deparo no cruzamento de Oiã com o cartaz que O. do Bairro é que é Cultura, i.e., é só cultura.
Em Cantanhede e mesmo ao lado da minha casa do Escoural, ali nos Olhos da Fervença, é o cartaz a Cultura da água.
É só Coltura!
Indicadores para próximos cartazes colturais.
Eu sei que alimenta essa gente toda, e não tenho nada contra isso, muito antes pelo contrário. Mas raramente ouço o pessoal da fnac a queixar-se. Aliás, pelo número de lojas que tem surgido em todo o lado, eles não devem ter grandes problemas. O problema, e o que me chateia, são mesmo as editoras e os (alguns) "autores". Esses sim, andam sempre a queixar-se. E queixam-se com razão. Porque já não têm os lucros imorais que tinham antes... apesar de os continuarem a ter. Já não dá é para pagar jantares e bebedeiras a torto e a direito.
E quando digo alguns "autores" não estou, nem de perto nem de longe, a referir-me a todos. Mas é bem sabido que a spa, durante largos anos, andou a distribuir dinheiro por alguns privilegiados, à custa dos outros todos... E, agora, parece que se acabou a mama.
Esses mesmos barrigudos, quando apareceram os CDs aproveitaram logo para reduzir o tamanho das capas (e assim poupar dinheiro) e subir o preço do produto.
É o que dá a ganância. Se os CDs fossem vendidos com umas capas grandes como os discos de vinil, de certeza que vendiam mais. É que, tal como dizes, as pessoas pagam a música e também o produto.
Já viram os escritórios do SPA no Saldanha?
Dois prédios de 8 andares.
Muito trabalho com certeza :D
ainda num bi! se puderes, amanda foto.
pvl, para veres que tens razão, basta ver o lançamento do último disco do u2.
O meu pai é autor (escreve), pelo que vai algumas vezes ao Saldanha. Encontra sempre alguém conhecido no panorama musical, que se queixa do pouco que recebe...se a coisa não chegar à platina, claro (esses não vão lá...mandam ir).
Na música ganham mais os intermediários...nos livros idem...idem.
Como não temos culpa, bora lá sacar!
no sacar é que está o ganho!... ou não. eu, desde que comecei a sacar música da net, tenho gasto muito mais dinheiro em cd's...
já agora, deixo mais uma pergunta. vocês comprariam todos os cd's que sacam? os tipos das editoras acham que sim :)
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