domingo, outubro 15, 2006

A febre da velocidade (II)

Neste caso a velocidade é outra. Do que aqui falo não tem nada a ver com a velocidade do som, ou com quebras de recordes de velocidade. Falo da "rave", não das festas de alto speed toda a noite alimentadas a comprimidos, mas da Rede Ferroviária de Alta Velocidade (www.rave.pt) alimentada a Euros, ou melhor, os nossos Euros.

Apetece perguntar, será um recorde de gasto de Euros? Será que vai dar lucro? O que nos dizem os estudos?
Este mega "Projecto Português de Alta Velocidade" teve formalmente início em Novembro de 2003, numa cimeira da Figueira da Foz, onde se fixou o interesse nas ligações fronteiriças Porto-Vigo, Lisboa-Madrid, Aveiro-Salamanca e Faro-Huelva.

Depois de avaliações preliminares, e numa cimeira desta vez realizada em Évora em Novembro de 2005, determinou-se o interesse em avançar para a ligação entre Lisboa e Madrid e o interesse também em fazer uma licação de alta velocidade entre Lisboa e Porto. Quanto às outras ligações transfronteiriças, decretou-se nesta cimeira, e à boa maneira portuguesa, que ficariam em águas de bacalhau. Depois logo se vê.
Mas vamos por partes.
A ligação entre Lisboa e Madrid pretende-se que demore 2h45min e servirá passageiros e mercadorias. A futura ligação de alta velocidade entre Lisboa e Porto terá apenas serviço de passageiros e com paragens intermédias na Ota, Leiria, Coimbra e Aveiro. O mais curioso é que se quer um serviço rápido, com o interesse em fazer a ligação em 1h15min e simultaneamente parar em todas as tascas. Não sei como vai ser, mas depois logo se vê, como diz o ceguinho.

Mas afinal quanto esta história vai custar?
Aqui ainda mais ceguinhos ficamos. No site da Rave fala dos impactos económicos da construção da Rede de Alta Velocidade. Quanto ao investimento que será, ou já esta a ser feito, fala-se em 5000 milhões de Euros, que serão gastos de forma faseada. Este valor que nos dizem ser 0.6% do Pib, atingirá o seu pico em 2009 e será o valor a ser gasto na construção da rede de alta velocidade que terá de terminar em 2015. Pelo menos é o que diz, não o ceguinho, mas a previsão de gastos.

É muito dinheiro, como teria de ser obrigatoriamente numa obra deste calibre, mas quando se fala em investimento temos de saber como funciona o impacto económico da exploração da Rede de Alta Velocidade. Segundo os estudos revelados baseados em estudos demográficos e em projecções de mercado, aplicaram uma taxa de crescimento de 2% de utentes ao ano. Transportando isso para o Pib e fazendo umas contas maradas, falam-nos num acréscimo anual de 0.18%.

Então vamos a contas. Falemos em números. Ora, para a construção eram 5000 milhões que serão gastos até 2015. Nesse ano, estaremos mais pobres com o custo desse investimento e se a recuperação que nos falam de 0.18% se verificar, o retorno será atingido em 2018. Boa! Aplicando a mesma taxa pelos anos seguintes teremos em 2035 um lucro de 25 mil milhões de Euros. Nada mau, esta história do comboio de alta velocidade até parece uma galinha dos ovos de ouro.

Mas agora vamos ver outra coisa. Vamos a suposições baseadas em factos históricos. As derrapagens. Pois bem, quando se fala em obras públicas ou mega investimentos, os preços multiplicam por sete! Na Expo 98, previa-se um investimento de já não sei quanto, custou quase sete vezes mais. Euro 2004, previa-se um gasto de 120 mil milhões de Euros, gastou-se sete vezes o previsto. Onde está o retorno? No Túnel de Lisboa, por cada milhão de custo inicial, gastam-se sete. Até a nossa Ponte Europa, ou rainha santa, custou mais sete vezes. Sete, sete e mais sete, somos o país do sete.

Voltando aos comboios, se cumprirmos na nossa tradição de "heptagastadores" vamos obter um retorno só no ano de 2040! Isto provavelmente irá coincidir com a falência da segurança social e temos ainda com outro peso nas costas, a construção do Aeroporto da Ota...

Fazer comboio de alta velocidade para quê?
Porque sim!

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