terça-feira, novembro 27, 2007

Gemini ou gémeos

Ontem vi um documentário na dois sobre exploração espacial, e lembrei-me de uma história caricata...

Em 25 de Maio de 1961, o recém-eleito presidente americano John F. Kennedy fez o famoso discurso:

" (…) contamos enviar homens a Lua até ao final da década e traze-los de volta a salvo.(…) Nós decidimos ir a Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis…"

Começou assim o programa de exploração espacial americana em resposta ao Sputnik Russo. Foi uma autêntica corrida, uma corrida de nervos contra o tempo e com muitos milhões de dólares gastos. Foi difícil, como Kennedy disse, foi difícil para o país, foi difícil para os técnicos, foi um programa duro com baixas humanas e uma constante aflição por nunca pensarem ser possível tecnicamente lá chegarem… Os americanos aprenderam muito com os seu erros e se há alguma coisa de que eles se possam orgulhar, é de terem colocado um homem na Lua. Mas terão os americanos ganho a corrida?

Bom, chegaram lá, pisaram o solo lunar e colocaram lá uma bandeira, que por acaso foi costurada por uma portuguesa, mas os russos pisaram também o solo lunar com uns robots que mais pareciam uns aranhiços, e estudaram as mesmas coisas por muito menos dinheiro. Foi uma corrida ganha? Tenho as minhas dúvidas.

Discussões de parte, o que acho verdadeiramente interessante no programa Apollo foi a forma de como ele foi evoluindo. Inicialmente construíram umas cápsulas, a Mercury, uma coisa do tamanho de um Smart mas que só levavam um tripulante e que permitiu lançar o primeiro americano no espaço. O Alan Shepard apenas saiu da orbita terrestre por uns minutos e mais tarde o primeiro americano a orbitar a Terra, foi o Jonh Glenn. Com o programa Mercury podiam estudar como se colocar um homem no espaço, faze-lo orbitrar e traze-lo de volta. Mas para ir à Lua, precisavam de aprender mais, precisavam de ir mais longe, mais tripulação, uma nave maior, precisavam de ensaiar mais soluções e bater com a cabeça na parede até terem resultados. Assim nasceu o programa Gemini.

O nome do programa era o nome das cápsulas que levavam dois tripulantes (daí o nome, Gemini, ou Gémeos) e, com o que aprenderam com ele, garantiram a sustentabilidade para que o programa Apollo fosse exequível. Com a Gemini conseguiam orbitar a terra por longos períodos e permitiram fazer os "passeios espaciais" (as EVA´s, ou actividades extra veiculares).

Foi com o programa Gemini que deram o pulo para o programa Apollo, onde tiveram as únicas baixas em todo o programa espacial, quando num ensaio de lançamento uma faísca incendiou por completo o interior da cápsula onde se respirava oxigénio puro, matando instantaneamente os dois astronautas que lá estavam. Foi uma tragédia, uma "dificuldade" como Kennedy tinha dito, e foi com isso que aprenderam mais uma coisa e que agora importava vais do que nunca vencer a corrida e colocar homens na Lua.

O programa Gemini teve obviamente coisas positivas, mas teve um episódio bastante engraçado quando os americanos quiseram estudar os efeitos no corpo humano da prolongada permanência em ambiente de gravidade zero. Sabia-se que provocava atrofia muscular e que dificultaria a fixação de cálcio nos ossos, mas como as coisas têm de ser estudadas, colocaram duas cobaias humanas dentro de uma cápsula Gemini e enviaram os meninos 14 dias para o espaço. 14 dias pode até parecer pouco, mas olhando para a imagem que coloquei anexada, podem ver que espaço não abunda, nem podiam ir dar uma volta para tomar café, nem sair para ir à casa de banho, não podiam fazer nada. Apenas estar sentadinhos, comer por um tubo, fazer as necessidades dentro da fatiota, e… bom, podiam conversar bué… Um dia, dois dias, e os dois astronautas conversaram, conversaram, riram, choraram, desesperaram por sair dali, devem ter rezado, devem ter implorado pela sopa da mãezinha, mas ficaram amigos para a vida. Souberam tudo da vida um do outro e em entrevistas posteriores revelaram até ter pedido em casamento um ao outro. Ao pé disto o Brokeback Mountain é uma história de meninos, pois acredito que mais depressa se abala o orgulho americano com astronautas gay do que com cowboys guardando as vaquinhas pelo campo fora.

Mas ao fim dos 14 dias aconteceu a cena mais engraçada de todo o programa espacial. A cápsula entrou na atmosfera, caiu no Pacífico e os dois pombinhos foram resgatados por um helicóptero. Depois disso e perto do local de amaragem, estava um porta-aviões, com uma comitiva de recepção, com uma banda, uma passadeira vermelha, uma cobertura televisiva em directo e os astronautas seriam recebidos pelo vice presidente americano (talvez o Nixon… não sei…). Assim foi, o helicóptero aproxima-se do porta-aviões, meia volta para a fotografia, e começa lentamente e poisar… Alguém estica a passadeira vermelha ate ao heli, a banda começa a tocar, o vive-presidente aproxima-se da saída do helicóptero para ser o primeiro a receber os novos heróis nacionais.

A porta do helicóptero abriu-se e lá estavam eles, com uma barba de imensa, com um mau aspecto horrível, vestidos com um fatinho cromado e cada um deles segurava um saquinho ligado por um tubo ao traseiro… Ninguém cuidou da imagem deles nem fez sequer um exame médico antes da opulenta recepção.

Depois aconteceu o inevitável, os astronautas saíram do helicóptero e aproximaram-se do vice-presidente, mas depois 14 dias em gravidade zero sem se mexerem, conseguiram apenas dar dois passos. Fraquejaram das pernas e começaram lentamente e os dois ao mesmo tempo, a cair sobre os joelhos, num movimento que fez lembrar a todo o mundo incauto que assistia aquilo, que estavam a preparar-se para rezar, ou para fazer algum agradecimento divino. Ficou tudo espantado, a banda calou-se, o vice presidente colocou-se de joelhos também, e toda a tripulação do porta-aviões se ajoelhou silenciosamente como se uma reza colectiva se tratasse. Foi assim que os receberam, ninguém percebeu que estavam fracos, sem se conseguirem aguentar de pé. Foi uma recepção comovente quando não tinha nada para o ser, ficou imortalizada por uma atitude negligente, mas os heróis não deixaram de ter uma recepção digna e o facto de toda a gente se ter ajoelhado, revela bem o respeito que tiveram por eles.

Foi assim, os dois astronautas de que não sei os nomes ficaram ainda 15 dias a recuperar no hospital, ficaram saudáveis e a continuação do programa espacial já se sabe como foi. Não sei se viveram felizes para sempre, mas decidi relatar esta história daqueles que foram forçados a ser gémeos siameses, muito provavelmente sem o terem pedido. Verdadeiros heróis sem dúvida.

2 comentários:

Jonas disse...

Por acaso tb vi esse programa ontem. A RTP2 passou, talvez, à um mês um documentário, com a chancela da BBC, sobre a corrida ao espaço. Achei muito interessante. Aliás, os russos sempre estiveram á frente na corrida espacial. O que os Americanos têm é propaganda. Estou em crer que os americanos nunca estiveram na lua...vc já viram bem as sombras que as imagens transmitem? I wonder...

Sistema disse...

A série é BBC Space Race

Quem quiser, são 4 episódios :)