quarta-feira, novembro 01, 2006

Cardoso Pires...

Fazem agora 8 anos que o escritor José Cardoso Pires morreu. Merece um post. Mas não é so por ele o post, é por me ter lembrado umas férias surreais com uma Glória que também se foi. O Cardoso Pires foi um grande português, como agora esta na moda, e pude ver que tem obras com nomes interessantes como o "Burro em pé", o "Dinossauro excelentíssimo " e outro chamado "E agora, José"?

E foi isso mesmo que eu perguntei à chegada de Vila Nova de Milfontes com o excelentíssimo Sr. André Alface. E agora, como vai ser? Duas semanas com o menino, só nós. Estava com um sentimento de bom samaritanismo, ao fazer um favor à familia, em lidar com uma pessoa com necessidades especiais. Estava cheio de boas expectativas de me divertir com o meu amigo, mas todas as ideias que tinha de umas férias com companheirismo se desvaneceram quando o André me disse: "Estamos juntos aqui, mas isto é cada um por si, tu vais à tua vida, eu vou à minha"...

E assim foi, tirando as refeições que fazíamos juntos, todo o resto do tempo foi passado "cada um por si". O André passava o tempo a passear de pastelaria em pastelaria, de café em café, e conseguiu gastar 250 Euros em carregamentos de telemóveis que nunca usava. Eu tinha que estar atento às medicações dele, às horas de sono e tentar controlar o número de cafés diários que ele tomava. Fui como amigo, mas acabei por me irritar com tudo aquilo e a certa altura fui mais enfermeiro que companheiro de férias. Mas em tempo algum me importei com isso, considerava-o como um grande amigo e o André despertava em mim um certo paternalismo que me fazia sentir bem. Fui de férias com ele por amor. Gostava dele e pronto! Gostava muito dele! Divertia-me, fazia-me rir, e levantava-me a moral quando eu não estava bem. Ri-me imenso com ele nos nossos banhos de piscina onde tentei ensinar o gajo a nadar, em vão, e onde só mergulhava a cabeça na água com uns óculos de mergulhador de fazer inveja ao Jaqques Cousteau.


Fora esses episódios caricatos, eu passei meu tempo na piscina do hotel e entreguei-me à leitura da "Balada da Praia dos Cães”, do José Cardoso Pires. Por isso me lembrei. Lembrei-me do livro, da sua história, das férias, e obviamente da grande Glória que era o André. Lembrei-me das suas mentiras compulsivas e a "Balada da Praia dos Cães" é uma boa metáfora daquilo que o André era. O livro é uma Balada de conspiradores. Uma valsa de mentiras e verdades. É um livro inteligente como ele era. Um livro de que se podem ter reservas inicialmente, mas que depois de começar a ler é impossível não gostar, assim como era impossível não gostar do André.

Ao Cardoso Pires deixo aqui a minha homenagem à sua obra, e ao André fica o meu grande abraço por ter tornado a minha vida muito mais rica com o legado que ele deixou nas minhas, ou melhor, nas nossas memórias.

Até qualquer dia meu amigo, tenho saudades tuas!


1 comentário:

Myllana disse...

Belo post :)
A saudade é inevitável...mas lembranças boas sempre são bem - vindas :)